
Todos nós somos extensões de Deus,
levando a Sua luz e o Seu canto até aos lugares escuros
e
vazios do nosso mundo.
Roberta L. Messner
Já
quase me estava a arrepender da promessa feita à Srª Saunders, a coordenadora
da venda de caridade do Natal: “Quer oferecer o prémio para o sorteio de rifas
deste ano, minha querida?” perguntou ela persuasivamente. “Nada como um
maravilhoso prémio para atrair compradores a uma venda de caridade.”
Apenas
a três semanas do Natal, a tarefa ainda por concluir pesava-me na consciência
como um ramo de árvore quebrado pelo frio. Queria fazer algo realmente
especial, mas agora, na véspera da venda de caridade, sentada na mesa da cozinha,
faltava-me a inspiração.
Assim,
o que fiz foi deslocar-me até ao sótão, à procura de uma dose súbita de
criatividade. Agarrei num pinheirinho miniatura e em duas caixas de hipotéticos
tesouros e arrastei-me de volta à cozinha. Talvez uma musiquinha da época me
trouxesse o espírito festivo, pensei, enquanto agarrava numa cassete de Natal.
Remexi minuciosamente uma caixa com uma etiqueta “Bonecas Velhas”. Dentro em
pouco, dei por mim a cantar as palavras tão familiares “Joy to the world…”
E
olhei atentamente para a pilha de quase duas dúzias de bonecas que tinha
adquirido há alguns anos numa feira de quinquilharias. Peguei numa boneca
japonesa com um quimono azul-escuro; numa família nativa americana com um tipi
de feltro castanho; numa boneca “Miss Liberdade” enfeitada de vermelho, branco
e azul; e num quarteto de bonecas em trajes escandinavos.
De
repente, dentro de mim uma vozinha sugeriu: Faz uma árvore “Joy to the World”!
Uma a uma, prendi com arame as bonecas aos ramos do pinheiro. E eles quase
cederam com o peso de todas elas! Mas algumas bonecas estavam em bocados.
Meticulosamente, recoloquei os seus braços e pernas com um par de pinças e
alguns elásticos. Apesar dos meus esforços, uma boneca de cabelos pretos, olhos
penetrantes e traje espanhol, estava sempre a desmembrar-se. Mas enquanto eu a
segurava nas mãos para voltar a prender-lhe os membros pela terceira vez, pude
sentir uma afinidade com as mulheres de todo o mundo que, tal como eu, precisam
bem do espírito natalício para se recompor…
Exatamente
nessa altura a minha amiga Becky entrou porta adentro para ver os meus
progressos. E eis-nos lançadas a todo o vapor no projeto! “Que tal usar algumas
destas flores secas?” sugeriu Betsy apontando para o ramo de cristas-de-galo,
gipsófilas e botõezinhos de rosa pendurado nas vigas do teto da cozinha. A
seguir acrescentámos retalhinhos de fitas e rendas.
“O
que vamos fazer com o espaço vazio no centro?” perguntou Betsy. Vasculhámos a
casa em busca do toque final… um pequeno globo terrestre na minha secretária,
coroado com um laço de veludo recuperado da coroa de flores pendurada sobre a
minha lareira. Juntas, recuámos e sorrimos perante o nosso trabalho artesanal.
“É a árvore mais bonita que já vi,” concluiu Betsy.
Na manhã
seguinte, embalei cuidadosamente no carro a nossa árvore “Joy to the World.”
Num impulso, corri a casa e agarrei numa extensão elétrica, num leitor de
cassetes portátil e na cassete de “Joy to the World.”
Quando
cheguei à venda de caridade, todos estavam imbuídos do espírito da época. Uma
senhora com um casaco castanho de cachemira bateu-me no ombro. “Esta árvore faz‑me lembrar todas as minhas viagens,’
disse, enquanto mexia a sua cidra com um pauzinho de canela. Uma artesã de
avental andava a passear-se por perto. “ Vou encomendar uma destas árvores para
a minha neta na Alemanha,” disse. Depois, a senhora das bolachinhas de gengibre
juntou-se a nós: “Vou levar esta árvore para minha casa.”
Dentro
em pouco, a sala estava apinhada de compradores de olhar fixo na árvore que
jamais seria duplicada. Momentos antes do sorteio, uma senhora minúscula de
olhos cansados e com um casaco cinzento desbotado trocou cinquenta cêntimos por
uma rifa. O cabelo asseadamente entrançado, enrolado e bem apertado num puxo, emoldurava
uma face despojada de tudo, menos de determinação.
“Viemos
à cidade comprar comida para o gado e eu convenci o meu marido a parar aqui, “
disse. “Sobrou-nos algum dinheirito dos ovos para gastar.”
Admirou
os anjos de cetim, as compotas caseiras e um bolo de frutas com o formato de
uma coroa de Natal. Foi então que descobriu a árvore. “Aquela árvore, as
bonecas!” exclamou. “Toda a minha vida quis ter uma boneca! A única boneca que
tive foi a que a minha mãe me fez de espigas de milho. Alguém vai ganhar todas
aquelas bonecas?”, perguntou com um olhar longínquo.
Pus o
leitor de cassetes a funcionar, e a melodia de “Joy to the World” encheu a
sala. Todos os olhos – menos os dela – estavam agora postos na caixa das rifas,
e na mão que iria retirar o número vencedor. De todo o lado da sala conseguia
ouvir vozes diluídas. “Aquela árvore é minha…” “Não, é minha…”
Mas
aquela senhora nunca mais tirou os olhos da árvore. “O meu neto Willie vive a
um passo de distância da nossa casa,” disse. “É muito esperto. Conseguia de
certeza enumerar cada um dos países daquele mapa.”
Veio
por fim o anúncio longamente esperado: “O prémio do sorteio vai para o número
1153.” Dei uma olhadela às mãos ásperas que seguravam a rifa premiada e apertei
os seus ombros magros.
“Acabou
de ganhar a árvore!” gritei.
“Quer
dizer que é a minha rifa? Nunca tive nada tão lindo!” As lágrimas corriam-lhe
pelas faces engelhadas.
Desliguei
as luzes e enrolei o fio da extensão. “Também vou ganhar aquela caixa de música
e o fio comprido?” perguntou ela. “Penso colocar a árvore na janela, mas só
temos uma tomada na sala. Que jeito me dava aquela extensão extra!”
“Claro…
é Natal,” respondi.
Uma
carrinha de caixa aberta amarela e ferrugenta apareceu à nossa frente, e um
homem de jardineiras e camisa de flanela axadrezada saltou lá de dentro.
“Josie, mas o que é que tu arranjaste aqui?” berrou.
“Olha,
ganhei esta árvore!” Rapidamente, ele arranjou lugar para ela, afastando uma
pá, umas correntes de pneus e alguns sacos de comida.
Acenei
um adeus enquanto a carrinha a desfazer-se desaparecia no céu daquele anoitecer
em tons violeta. Na minha mente, eu já imaginava a árvore num lugar de honra, à
janela de uma humilde e vagamente iluminada choupana, no coração das montanhas.
As pessoas que ali viviam tinham mesmo sorte… Não eram viajantes do mundo, mas
gente que trabalhava duro, felizes com aquilo que tinham. Um fumo negro iria
provavelmente elevar-se da chaminé em direção ao cortante ar de dezembro
enquanto a família se reunia em volta da árvore.
“Olha,
Avó, está aqui o Japão,” talvez dissesse o Willie, apontando para o globo
terrestre que já tinha estado sobre a minha secretária. E Josie, ainda
fascinada pela extensão elétrica, iria ligar as luzinhas cintilantes e a sua
“caixa de música.”
Ainda
assim, acredito que nessa noite a verdadeira vencedora fui eu. Embora nunca
mais tenha visto Josie, ela tinha-me ajudado a descobrir como levar a luz e a
música até aos lugares mais escuros e despojados do nosso mundo.
Roberta L. Messner
Fonte:
Clube das Histórias
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ResponderEliminarhttp://www.lucimarestreladamanha.blogspot.com
Obrigado, Lucimar!
EliminarTb já sou seguidor do "Estrela".
Bom ano pra você!
AP
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ResponderEliminarSeu ano será de muitas alegrias!